Treinos às terça e quinta das 17h às 18h30 no IFSP Avaré.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

PARTIDA EXPLICADA

Los Angeles, 1933
Abertura dos Quatro Cavalos
Brancas: Capablanca
Pretas: H. Steiner

1.e4
É um ótimo lance inicial, e deve ser o preferido pelos que se iniciam em xadrez.
Sua finalidade é ampla:
a) Ocupa importante casa central de seu território (e4), ao mesmo tempo que exerce fiscalização em duas casas do território inimigo (as casas d5 e f5). Decorre daí uma vantagem: o inimigo não poderá ocupar essas duas casas de seu campo, ameaçadas que estariam de captura por parte do peão branco.
b) Concorre vantajosamente, para o desenvolvimento das peças brancas, por facilitar a saída do bispo do rei e da Dama.
Não é uma jogada de ataque, nem de defesa; é um lance neutro, de desenvolvimento.
1...e5
Tem as mesmas razões que o lance anterior.
2. Cf3
É um lance de desenvolvimento, de ação central, mas também de ataque. De desenvolvimento, porque o cavalo em f3 domina oito casas (f1, h2, h4, g5, e5, d4, d2 e e1), enquanto em sua casa inicial dominava apenas três (e2, f3 e h3). De ação central, porque visa duas casas do centro, d4 e e5. E é um lance de ataque, porque ameaça diretamente o peão do rei inimigo. É a melhor casa de saída para o cavalo. Inferiores seriam Ch3 (sem ação central) e Ce2, onde dominaria menor número de casas.
Qual a melhor defesa para o peão atacado das pretas? Quais as defesas diretas possíveis? Qual a melhor?
a) 2...f6. Embora, aparentemente, resolva a defesa do peão do rei, não é recomendável porque enfraquece um futuro roque preto (pelo avanço de um peão do roque e pela abertura da diagonal das brancas a2-g8 sobre o roque) e também porque priva o cavalo do rei de sua melhor casa que é f6. Também pouco colabora para o domínio central (apenas defende o peão do rei atacado) e em nada coopera para o desenvolvimento. Ao contrário, limita eventual saída da Dama pela diagonal das pretas d8-h4. Se não existissem esses motivos posicionais, para repudiar o lance 2...f6, haveria a seguinte continuação tática 2...f6; 3.Cxe5 dxe5 4. Dh5+ g6 5.Dxe5+, seguido de Dxh8, e as Brancas ganham material.
b) 2...d6. Defende o peão do rei e permite o desenvolvimento do bispo da dama, mas é de pouca ação no centro e obstrui a saída do bispo do rei. Por esses inconvenientes não é considerada boa defesa.
c) 2...De7. Salta os olhos o inconveniente deste lance: impede a saída do bispo do rei, além de não exercer ação central.
d) 2...Df6. Priva o cavalo do rei de sua melhor casa e se expõe, após o avanço do peão da dama branco, ao ataque Bg5 das Brancas. Também sem ação no centro. Não é, pois, defesa recomendável.
e) 2...Bd6. Bloqueia o avanço do peão da dama preto, dificultando o desenvolvimento do bispo da dama. É má defesa.
f) 2...Cc6. Defende o peão do rei atacado e exerce ação nas casas centrais e5 e d4. Constitui ótimo lance de desenvolvimento; não impede a saída de nenhuma peça de seu lado, domina oito casas. É por isso, a melhor defesa para o peão do rei atacado.
2...Cc6
3. Cc3
Em sua casa inicial este cavalo dominava apenas três casas (a3, c3 e d2). Agora domina oito (b1, a2, a4, b5, d5, e4, e2 e d1). Representa bom lance de desenvolvimento e com ação central nas casas e4 e d5.
3... Cf6
Bom lance, pelas mesmas razões acima apontadas.
4. Bb5
Em sua casa inicial, este bispo agia em todas as casas de sua diagonal aberta. Agora, age, ainda mais, sobre as casas a4 e c6, onde se encontra um cavalo inimigo. Com tal saída foi ampliado seu raio de ação, ao mesmo tempo que tornou possível a realização do roque pequeno. Por esse lado, constitui bom lance de desenvolvimento. Mas é igualmente lance de ataque, porquanto ameaça Bxc6, eliminando a defesa do peão do rei preto, que poderá, depois, ser capturado pelo cavalo branco de f3. Indiretamente tem ação central, pela ameaça de eliminar o cavalo inimigo, que atua sobre o centro. Trata-se, pois, de um bom lance.
4...Bb4
O contra-ataque como defesa
Este lance surpreende o principiante. Se a ameaça branca era 5.Bxc6, seguido de 6.Cxe5, parecia haver necessidade de defender o peão do rei preto, por exemplo, com 4...d6, procurando substituir a defesa, que o peão do rei irá perder devido à ameaça 5.Bxc6. Porém, essa defesa teria o inconveniente de obstruir a saída do bispo do rei, e já sabemos que as peças devem ser desenvolvidas sem prejudicar a saída das peças companheiras. E o lance do jogo organiza alguma defesa para o peão do rei atacado? A resposta é afirmativa. A jogada 4...Bb4 constitui defesa pelo contra-ataque. Visa eliminar a defesa do peão do rei inimigo, capturando o cavalo de c3 das brancas, seguindo-se da captura Cxe4. Se 5.Bxc6, procurando ganhar o peão preto, a partida seguiria do seguinte modo: 5...dxc6 6.Cxe5 Bxc3 7. bxc3 Cxe4; e as pretas recuperariam o peão. Portanto, é uma jogada de desenvolvimento, de defesa (pelo contra-ataque) e de ação central, pois vulnera uma peça inimiga (o Cc6), que exerce fiscalização nas casas centrais. Surgiu, com esse lance, um ensinamento importante: um lance de contra-ataque , substituindo uma jogada defensiva.
5. O-O
O roque deve ser realizado o mais cedo possível.
O principiante deve procurar seguir a seguinte regra: "Roque tão logo quanto seja possível e de preferência com a torre do rei". O roque permite colocar o rei em segurança e dar jogo à torre do roque. Em algumas circunstâncias pode-se realizar o roque com a torre da dama, observando um ataque ao rei inimigo, que tenha rocado com sua torre do rei (caso de roques opostos); esse ataque, tendo por base a instalação de peças na ala do rei, principalmente torres, e avanço dos peões da ala do rei. Em ocasiões mais raras, poder-se-á atrasar, deliberadamente, o roque, aguardando-se as intenções do adversário, para optar-se, conforme o caso, pelo roque em uma das alas. Entretanto, em 90% dos casos, deve-se procurar rocar, rapidamente, com a torre do rei (roque pequeno).
5...O-O 
Ambos os adversários intercalaram o roque no clima de tensão de luta existente ao redor dos peões centrais.
6. d3
Defendendo o peão do rei com outro peão, ao mesmo tempo que permite a saída do bispo da dama. Trata-se de um lance de desenvolvimento e de defesa.
6...d6
As razões são as mesmas acima indicadas.
7. Bg5
Em sua casa inicial este bispo apenas controlava as casas de sua diagonal aberta. Agora, age, ainda mais, sobre as casas h4 e f6, onde se encontra um cavalo inimigo. Portanto, lance que ampliou o raio de ação do bispo da dama. O cavalo do rei preto ficou cravado, não pode mover-se sem expor a dama preta a ser capturada pelo bispo branco. Trata-se, também, de um lance de ataque. As pretas não temem a captura 8. Bxf6, pois tem resposta adequada, que é 8...Dxf6. Mas a ameaça branca é 8.Cd5!, atacando mais uma vez o cavalo do rei preto e, após 9. Cxf6+ gxf6 10. Bh6, conseguiram as brancas romper a barreira do roque preto, abrindo a coluna do cavalo do rei para um ataque. Essa manobra é viável graças à pregadura do cavalo do rei preto.
7...Bxc3
Uma troca necessária
As pretas descobriram a intenção do adversário, e eliminam o cavalo, que ameaçava dirigir-se à casa d5 para efetuar a manobra acima estudada. A defesa encontrada pelas pretas é boa. Ao contrário, combater a pregadura que o bispo branco exerce sobre o cavalo do rei preto com 7...h6 8. Bh4 g5, não é recomendável, por enfraquecer esses mesmos peões, que se movimentaram, e o próprio roque preto. Na maioria das vezes, o bispo da dama atacado retrocede a g3, mas, no caso presente, conseguem as brancas forte ataque com 9. Cxg5! hxg5 10. Bxg5 Bxc3 (forçado para evitar Cd5!) 11. bxc3 De7 12. Df3 Rg7 13. Dg3 seguido de f4.

8. bxc3 Ce7
Evitar enfraquecer o roque
Já sabemos que o roque visa dar jogo à torre do rei (no roque pequeno) e colocar o rei em segurança. Mas, a estrutura do roque deve ser mantida, para não tornar o roque débil, facilmente alvo de ataque. Os três peões das colunas f,g e h são o escudo do rei. Tem força defensiva máxima, quando situados em suas casas iniciais. O avanço de um deles, ou seu desaparecimento, estabelece falhas nesse escudo, por onde o rei pode vir a ser fatalmente atingido. Com 8... Ce7 as pretas permitem a destruição desse escudo real, pois, se as brancas jogarem 9. Bxf6, a resposta forçada é gxf6 e resulta daí:
a) uma coluna aberta sobre o roque preto, por onde podem agir peças inimigas (damas e torres);
b) peões dobrados (f7 e f6), que devem ser evitados, visto constituírem fraquezas;
c) casas fracas, f6 e h6, onde podem ser instaladas peças adversárias, porquanto desaparece o peão em g7, que dominava essas casas.
9. Ch4
Abertura de colunas abre jogo às torres
Para prosseguir com f4 e fazer atuar a torre do rei no ataque ao rei inimigo, pela abertura da coluna do bispo do rei. É uma manobra típica para aproveitar a ação das torres.
9...c6
Incomodava o segundo jogador o domínio que o bispo do rei branco exercia sobre as casas d7 e e8. Daí a razão de seu último lance.
10. Bc4
Dirigir as peças para o lado em que está o rei inimigo.
Porém, a posição deste bispo é, de novo, esplêndida, porque atua sobre a casa f7, duas vezes defendida, é verdade, mas uma defesas defesas sendo o próprio rei.
10...Be6
Tanto era eficiente a ação do bispo branco em c4, que as pretas procuram opor-se a sua ação e mesmo eliminá-lo.
11.Bxf6!
Debilitar o roque inimigo no momento exato
As brancas realizam a captura que seu adversário permitira a dois lances atrás, mas fazem-no, agora, no momento exato, sem deixar às pretas possibilidades de compensação de aproveitamento da coluna aberta.
11...gxf6
Retomada forçada: Se 11...Bxc4?; com 12. Bxe7!, as brancas ganham uma peça: 12...Dxe7 13. Cf5!, seguido de 14. dxc4.
12. Bxe6 fxe6 13. Dg4+!
Tem grande eficiência os lances que visam mais de um objetivo
Devido à perigosa política de permitir a destruição de seu escudo real (os peões do roque), encontram-se, agora, as pretas alvo de ataque. A barreira de peões do roque foi destruída, originando-se uma coluna aberta, que nenhuma compensação trouxe às pretas. Ao contrário, constitui, isso sim, via de ataque para o inimigo. Com 13. Dg4+, as brancas alcançaram dois ataques simultâneos, um ao próprio rei inimigo e outro ao peão em e6 indefeso. Esses lances, que atingem mais de um objetivo são altamente eficientes e, frequentemente, ocasionam vantagem material, quando não restringem o jogo adversário, pela limitação das respostas.
13...Rf7
Forçado, para não perder o peão. Eis o caso de limitação na resposta.
14. f4
Com o objetivo de fazer atuar a torre do rei na coluna aberta, após a troca de peões.
14...Tg8
A primeira vista, as pretas conseguiram uma compensação, porquanto sua torre atua na coluna aberta G, sobre o rei branco. Mas o jogador das brancas demonstrará a inconsistência e a fraqueza do roque adversário.
15. Dh5+!
Outra vez um lance de duplo objetivo: atacar o rei e o peão de h7 indefeso.
15...Rg7
Corre o rei preto para defender o seu peão. Outro exemplo de limitação de resposta a um lance de dupla finalidade.
16.fxe5
Abre-se uma coluna: torres em ação
O lance das brancas, que foi bem preparado, dá ao primeiro jogador o controle absoluto da coluna aberta F, por onde atuarão com eficiência suas torres.
16...dxe5
Retomada obrigatória. Se 16...fxe5, as brancas dariam mate em dois lances, com 17. Tf7+ Rh8 19. Dxh7#. Essa continuação já é suficiente para demonstrar a força da torre branca na coluna aberta f.
17. Txf6!
Sacrifício correto e que tem como base a excelente posição de ataque das peças brancas e a má posição do rei inimigo, que não mais dispõe de seu escudo protetor (os peões do roque).
17...Rxf6 18.Tf1+ Cf5
Forçado; se 18...Rg7, novamente haveria mate em dois lances, com 19. Tf7+ Rh8 20. Dxh7#.
19. Cxf5!
Melhor que 19. exf5, que permitiria a fuga do rei preto via 19...Rf7; com posição igualmente perdida, é verdade, mas que daria maior resistência às pretas.
19...exf5 20. Txf5+ Re7
Após Re6, seguir-se-ia a mesma continuação.
21. Df7+ Rd6 (único lance) 22. Tf6+ Rc5
Paga o rei preto por desprezar a proteção dos peões do roque.
23. Dxb7!
Entregando a torre, mas não pode ser capturada, por causa de 24. Db4#. Ao mesmo tempo ameaça 24. Txc6#.
23...Db6
Única jogada que evita os dois mates apontados. Mas...
24. Txc6+! Dxc6 25. Db4#
Observar que a dama preta, ao ocupar a casa c6, tirou do seu rei uma casa de fuga.

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